Autor: Edil Gomes
As moedas e cédulas do plano Real que foram emitidos em dia 1 de julho de 1994 completará 30 anos em 2024.
As cédulas foram lançadas em duas famílias, nos valores de 1, 2, 5, 10, 20, 50, 100, incluído a única de polímero do Brasil de 10 reais lançada em 2000 em comemoração aos 500 anos do descobrimento e a de 200 reais em 2020.
Das moedas, foi emitida a primeira família em aço de 1994 a 1997, nos valores de 1 centavo, 5, 10, 25, 50 centavos e 1 real, dessas apenas a de 1 real saiu de circulação em 23 de março de 2004 pela alta taxa de falsificação. Nesse período também foi lançado em 1995 as moedas comemorativas de 10 e 25 centavos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Em 1998 passou a circular uma nova família de moedas circulantes comemorativa aos 500 anos do descobrimento Brasil pelo Banco Central do Brasil, composta de tipos diferenciados, acabamento, design e em aço eletro revestidos, a novidade foi o lançamento da primeira moeda bimetálica feita no Brasil e posteriormente moedas comemorativas bimetálicas de 1 real para o meio circulante, como a dos 50 anos da Declaração dos Direitos Humanos, Centenário de Juscelino Kubitschek, 40 anos do Banco Central do Brasil, Comemorativa à entrega da Bandeira Olímpica, 50 anos do Banco Central do Brasil, as 16 moedas bimetálicas de circulação comum comemorativas aos jogos olímpicos que ocorreram no Rio de Janeiro em 2016 e em 2019 a última moeda de circulação comemorativa emitida alusiva aos 25 anos do plano real (Beija-flor).
No site do Banco Central, encontram-se as informações de cada moeda como peso, diâmetro, espessura, metal utilizado e a tiragem de cada valor circulado em cada ano.
Plano Real
Em 1994, o Brasil caminhava com uma hiperinflação com desvalorização do dinheiro, várias trocas e conversões já haviam sido feitas em nossa moeda, período em nossa numismática que englobam as moedas de aço. Nesse ano, o Plano Real foi lançado para estabilizar a economia através de uma reforma econômica, iniciado em 27 de fevereiro de 1994 no governo Itamar Franco que determinou o lançamento de uma nova moeda, a oitava mudança de valores no Brasil, que foi lançado oficialmente em 1º de julho de 1994, tendo toda a base monetária brasileira trocada.
Para se ter uma ideia dessa infração, a moeda circulante era o Cruzeiro real (implantado em 1993) teve conversão de CR$ 2.750,00 para cada R$ 1,00. Em junho de 1994, um mês antes do lançamento das moedas, a inflação chegou no mês a 46,58%.
A idealização do projeto, elaboração das medidas do governo e a execução das reformas econômica e monetária contaram com a contribuição de vários economistas, reunidos pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que posteriormente foi eleito presidente do Brasil como o criador do Plano Econômico.
Identificação das moedas
Primeira família
Na primeira família das moedas, todas foram feitas em aço inoxidável, bordo liso e composta de um anverso padrão para todos os valores, com a efígie da república ao lado de ramos de louros e traços transversais e abaixo a inscrição “BRASIL”, no reverso, o valor facial no centro, ladeado por ramos de louros com traços transversais e abaixo o ano de cunhagem em cavidade, todo o restante dos elementos em relevo no anverso e reverso.
Após o lançamento da série, também foi colocado em circulação o valor até então inédito de 25 centavos, em 30 de setembro de 1994, numa forma de facilitar o troco. Nos padrões anteriores a moeda intermediária entre 10 e 50 centavos era o valor de 20 centavos. Uma das curiosidades desta moeda e que a destaca das demais é o fato dela ter uma borda heptagonal na circunferência da moeda, além do anverso o valor sobre uma alegoria em ondas e reverso com a efígie representativa da República em traço, ladeada pela inscrição “BRASIL”, diferenciando das outras moedas da família.
Segunda Família
A partir de 1 de julho de 1998, foi lançado pelo Banco Central a segunda família de moedas com o tema “500 Anos do Descobrimento do Brasil”, homenageando personagens da nossa história. Mesmo com essa nova tiragem, as primeiras lançadas continuaram sendo aceitas normalmente, tendo somente recolhida a moeda de 1 real de aço.
Os homenageados representados nas moedas seguem uma ordem cronológica dos acontecimentos no seu anverso, de acordo com o valor facial do menor valor até a de 1 real. (Imagens a seguir cedidas por Eduardo Rezende do site Moedas do Brasil)
1 centavo – Pedro Alvares Cabral, ladeado por uma caravela, era fidalgo, comandante militar, navegador e explorador português que descobriu o Brasil em 22 de abril de 1500. Fato curioso da moeda de 1 centavo, é que pararam de ser produzidas em 2004, porém continuam a serem aceitas no meio circulante.
5 centavos – Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes (1746-1792), ladeado pelo triângulo da bandeira dos inconfidentes, sobreposto por um pássaro que representa a liberdade e a paz, foi o mártir da Inconfidência Mineira, que foi abortada pelo governo em 1789, sendo Tiradentes julgado e condenado a forca. Possui a borda lisa.
10 centavos – Dom Pedro I (1798-1834), proclamou a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, sendo o primeiro imperador do Brasil, ao lado a cena alusiva à proclamação da independência, quando às margens do riacho do Ipiranga, levanta a espada e sentencia “Independência ou Morte”. Possui a borda serrilhada.
25 centavos – Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892), proclamador da República em 15 de novembro de 1889 e primeiro presidente constitucional do Brasil republicano, ladeada pelo brasão das Armas Nacionais, que até hoje é utilizado. Possui a borda serrilhada.
50 centavos – José Maria da Silva Paranhos Júnior – Barão do Rio Branco (1845-1912), foi um advogado, diplomata, geógrafo, nobre e historiador brasileiro, ao seu lado o mapa do Brasil representando a dinamização da política externa brasileira e à consolidação dos limites territoriais. Única moeda que tem a inscrição em sua borda “ORDEM E PROGRESSO”.
1 real – Na moeda de 1 real se manteve a efígie da república, inovando com a cunhagem bimetálica, tendo no anel externo traços de grafismo usados em cerâmicas pela cultura indígena Marajoara. Serrilha intermitente intercalado com espaços lisos e serrilhados.
No reverso das moedas, seguiu o mesmo padrão em todas elas, com o valor monetário no centro, desenho com alusão à Bandeira Nacional com destaque ao cruzeiro do sul e abaixo a data de cunhagem em cavidade.
A moeda de 50 centavos sofreu alteração no metal empregado, em 1998, 2000 e 2001 foram cunhados em cuproníquel e de 2002 a 2018 em aço inox. Tal alteração também aconteceu nas moedas de 1 real de 1998 e 1998 e também na moeda comemorativa dos 50 anos dos Direito Humanos, eram usados no núcleo cuproníquel e o anel em alpaca, sendo substituído o núcleo por aço inox e o anel em aço revestido de bronze nas moedas de circulação comum de 4 de junho de 2002 até as atuais, bem como nas moedas comemorativas de circulação comum após 2002.
Elementos usados nas cunhagens
Em 1993 era lançado o Cruzado Novo e em 1994 substituído pelo Real, um tempo muito curto para uma troca de todas as cédulas e moedas em circulação.
Para se ter uma ideia de como foi essa troca repentina, vamos transcrever alguns trechos de uma entrevista de Carlos Roberto de Oliveira, funcionário da Casa da Moeda do Brasil, chefe da divisão de Engenharia de Produto, que na época estava responsável pela criação do meio circulante. Tudo foi muito rápido, e todos foram tomados de surpresa, já que a concepção era realizada por funcionários da Casa da Moeda que tinham outros produtos em paralelo para desenvolverem: “Em 10 de janeiro de 1994, tive a primeira reunião com o sr. Antônio Carlos Meda, Chefe do Meio Circulante do Banco Central. Em resumo ele me disse que precisava de dois projetos: um para uma nova família de cédulas, outro para uma nova família de moedas. Os dois para antes do Carnaval, que naquele ano seria daí a pouco mais de um mês, em 15 de fevereiro. Ele previa o lançamento para o dia 1 de maio de 1994.”
E o grande projeto começou primeiramente nas cédulas, conforme continua o relato: “Respondendo interinamente pelo departamento, designei os projetistas para me ajudarem e comecei a abrir as gavetas. Dada a premência do tempo, o real nasceu como uma colcha de retalhos, aproveitando um monte de cédulas do passado. A efígie da República, da cédula lançada em 1989 para homenagear os 100 anos da Proclamação. O beija-flor, daquela cédula de 100 mil cruzeiros, de 1992, que homenageou a Conferência Internacional do Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro. Os outros animais, tivemos que gravar um a um, todos eles.”
Tal compromisso na criação obrigou a CMB a adiar o lançamento e com relação as moedas temos o seguinte relato: “Houve grande reaproveitamento. Entramos em contato com os fornecedores de aço, disco, e eles vieram correndo. De minha parte, eu já havia concluído que não seria possível atender à demanda na data marcada, e o Banco Central alterou-a para 1 de julho de 1994. Mesmo assim, decidiu-se importar uma pequena quantidade – pequena em se tratando do Brasil – duzentas e cinquenta milhões de cédulas foram fabricadas no exterior. Cumpri a missão, graças a Deus: as artes ficaram prontas, depois de executados mil e um ajustes determinados pelo Banco Central, e sem computador. Eu desengavetei uns retalhos e fui colando, montando, com a equipe de projetistas que me restou.”
Com relação as moedas da primeira família, podemos notar que foi executado um único projeto e adotado em todos os valores. Tendo somente a primeira mudança na moeda de 25 centavos que foi lançada dois meses depois não seguindo o padrão.
De acordo com o relato do departamento de matrizes o desenho da efigie da república usado nas moedas e cédulas, segue o modelo da moeda de 1 Cruzado Novo de 1989. Nas cédulas podemos notar que foi utilizado a mesma efígie da República da cédula de 200 cruzeiros comemorativa ao centenário da república.
A efígie da república é usada em moedas do Brasil desde a sua proclamação e tem tido diversas alterações desde a sua concepção para representar a República no Brasil.
Nas atuais moedas de 1 real bimetálicas, foi adotado traços de grafismo representando a etnia indígena, através da cultura marajoara, uma sociedade da era pré-colombiana, que floresceu na ilha de Marajó, no Estado de Amazonas. Um grupo que alcançou o maior nível de complexidade social na pré-história brasileira, tal grafismo já foi utilizado em moedas do Brasil de 1938 a 1942.
Cunhagem
A cunhagem das moedas atuais é feita na própria Casa da Moeda, sendo os discos fornecidos por empresas terceirizadas, nas moedas que possuem serrilhas, são feitas no mesmo momento da prensagem através da virola. Somente nas moedas de 50 centavos, são adquiridas com a inscrição em sua borda anteriormente.
Na moeda de 1 real, a junção do núcleo e anel, que tem uma pequena folga, é realizada durante a cunhagem, onde o metal maleável do anel se expande através de uma cavidade do núcleo que possui um metal mais resiste.
Moedas Comuns – Versões Comemorativas de 1 real:
Aqui citaremos apenas as moedas comemorativas que entraram em circulação e continuam até hoje a serem aceitas no meio circulante.
50 anos da Declaração dos Direitos Humanos – 1998
Centenário de Juscelino Kubitschek – 2002
40 anos do Banco Central do Brasil – 2005
Comemorativa à entrega da bandeira olímpica – 2012
50 anos do Banco Central do Brasil – 2015
16 moedas bimetálicas de circulação comum comemorativas aos jogos olímpicos que ocorreram no Rio de Janeiro em 2016, lançadas em 2014, 2015 e 2016:
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio – Atletismo – 2014
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio – Natação – 2014
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio – Paratriatlo – 2014
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio – Golfe – 2014
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio – Basquetebol – 2015
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Vela – 2015
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Paracanoagem – 2015
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Rúgbi – 2015
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Futebol – 2015
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Atletismo paraolímpico – 2015
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Voleibol – 2015
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Judô – 2015
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Boxe – 2016
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Natação paraolímpica – 2016
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Mascote olímpica Vinicius – 2016
Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 – Mascote paraolímpica Tom – 2016
25 Anos do Plano Real – 2019
Conclusão
Hoje conseguimos ter uma coleção de moedas do plano real, com início, meio e fim, são moedas relativamente fáceis de se conseguir, sendo por tipo ou por datas. Com elas surgiram novos colecionadores, que foram atraídos pela série dos Jogos Olímpicos e paraolímpicos. Também pela alta tiragem surgiram vários tipos de moedas anômalas que atraiu a atenção como curiosidade. Hoje esses novos colecionadores e numismatas já começaram a se interessar por outras moedas e alguns tem continuado a coleção.
Um fato é certo, para ser um numismata, não precisa ter uma coleção com moedas caras e raras, você tem que conhecer primeiro o que tem, mesmo que essas moedas sejam comuns e buscar o máximo de informações que puder, através de livros e catálogos, no fim vai perceber que cada moeda tem sua história, independente do valor de mercado.
A última moeda comemorativa lançada foi em 2019 em comemoração aos 25 anos do Plano Real, fica a dúvida se teremos uma comemorando os 30 anos. Aguardemos.