Considerado o “Pai da Numismática Brasileira”, Hermann Friederich Julius Meili nasceu em Zurique em 1839, pouco se sabendo de sua vida antes de sua chegada ao Brasil aos 31 anos de idade. Permaneceu no país de 1870 a 1892, sendo nomeado Cônsul da Confederação Helvética em Salvador entre 1875 e 1881. Voltou para a Suíça aos 53 anos, falecendo em Zurique em 1907, aos 68 anos.
Nos anos em que permaneceu no Brasil, Julius Meili formou uma das maiores coleções de moedas, cédulas, medalhas e condecorações brasileiras já reunidas no país. Colecionador apaixonado, detalhista e preciso em suas pesquisas, classificou suas peças com rigor científico, construindo um magnífico painel de informações consolidado em um conjunto de livros ainda não superado, ponto de partida para todos os trabalhos numismáticos posteriores.
Após seu falecimento, a coleção foi doada ao Schweizeriches Landesmuseum de Zurique, que a ofereceu à venda ao governo de Epitácio Pessoa, que não se interessou pela oferta, da mesma forma como o fez a ditadura de Getúlio Vargas, em 1931. Anos depois, a coleção foi vendida ao senhor Pedro Spoery, suíço residente em São Paulo, o qual revendeu parte dela ao Museu Histórico Nacional. A coleção foi dividida, mas o nome de Julius Meili perdura, e a alcunha de “Pai da Numismática Brasileira” ficará eternamente na memória do Brasil.
Exatamente na mencionada ordem – medalhas, moedas e papel moeda – Meili publicou os seus três magníficos livros (com três partes descritivas e quatro outras partes de estampas), como resultado das suas longas, ingentes e exaustivas pesquisas. Sua coleção, onde figuravam raríssimos exemplares, foi a mais completa que jamais existira em todo o Brasil.
O seu primeiro livro, intitulado “Coleção Numismática de Julius Meili. As Medalhas Referentes ao Império do Brasil, (1822 até 1889)”, foi escrito em alemão e impresso em 1890, em Zurich. Junto com o “Catálogo das Medalhas Brasileiras e das Estrangeiras Referentes ao Brasil”, publicado pela Viscondessa de Cavalcanti em 1889, em que descreve 115 medalhas, cujas datas vão de 1596 a 1888, o trabalho do Meili é um dos primeiros trabalhos de numismática focado na numária nacional.
Seu livro contêm as estampas das raríssimas medalhas comemorativas e as condecorações militares do Reinado de D. Pedro I, e uma completa relação das do segundo Reinado, do Magnânimo Imperador D. Pedro II, referentes à Família Imperial; à abolição da escravidão; às exposições, notadamente à Internacional de Filadelfia e outras nacionais, provinciais e municipais; às de visita de altas personalidades ao Rio de Janeiro; às fundações, inaugurações e Centenários; às Campanhas Militares; à Maçonaria; às Letras e Ciências; à Filantropia; às sociedades de esportes; e à Justiça Pública.
Publicou então o seu segundo trabalho, em dois volumes, escrito em alemão, o qual tem título de “Das Brasilianische Geldwesen 1645 bis 1822” (As Moedas da Colônia do Brasil 1645-1822); o primeiro volume foi publicado em 1895 e impresso por Brunner & Hauser, e o segundo, em 1897, pelo Instituto Poligráfico, ambos de Zurich, na Suíça.
E onde se encontram as estampas de todas as moedas cunhadas desde 1645 até 1822 para o Brasil, em Lisboa, Porto, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio das Mortes, Sabará, Vila Rica, São Paulo, Mato Grosso, Serro Frio e Cuiabá.
Contém minudentes referências às fontes pesquisadas em Portugal, na França, na Holanda, no Brasil, etc., com um valioso documentário sobre, praticamente, todas as Leis, Cartas de Leis, Alvarás, Cartas Régias, Decretos, Provisões, Portarias e Avisos publicados em Portugal, referentes à Colônia do Brasil.
A terceira publicação da obra de Meili tem o título de “O meio Circulante no Brasil – A Moeda Fidunciária no Brazil, 1771 até 1900” e foi impresso em 1903, na tipografia de Jean Frey, em Zurich, com um prefácio dotado de dezembro daquele ano. Compreende uma coletânea completa, em 29 páginas, das Leis, Decretos, Provisões, Portarias, Avisos e Editais, etc., que se referem ao Meio Circulante no Brasil, de 1822 a 1900, começando no fim do reinado de D. João VI, com a portaria de 31 de janeiro de 1822, “mandando aprontar na Casa da Moeda da Corte, para serem quanto antes remetidos ao Governo Provisório de São Paulo, dois engenhos de cunhar moedas de cobre de 40 a 20 réis, assim como um fuso de sobressalente de 12 pares de cunhos de cada um desses valores”.
Revela, então, Meili, no Prefácio desse volume, que já não era mais sócio correspondente, e sim sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e explica razões por que deu preferência à publicação desta III Parte da sua obra em língua portuguesa.
Meili nesse terceiro livro, de extrema valia para os numismatas, penetra fundo no assunto, e explica como o padrão monetário brasileiro foi-se aos poucos aviltando, a começar pelo “Novo Padrão Monetário a Rs.2$000 a oitava de ouro de 22 quilates fixado pela Lei de 8 de outubro de 1833”, caindo pela Lei de 11 de setembro de 1846” pela mudança de Rs.2$000 para Rs.4$000 a oitava de ouro de 22 quilates, até chegar à República.
Com impressionante riqueza de detalhes, Meili trata das emissões legais, principiando por falar sobre os Bilhetes de Administração da Real Extração dos Diamantes (para a Capitania de Minas Gerais, 1771-1841) e as Letras, facilitando as transações para a mesma Capitania de Minas Gerais, e os “Bilhetes de permuta de Ouro em pó”, até chegar à “Mono-Emissão bancária” e os bilhetes do 1º Banco do Brasil autorizados a circular por Alvará de 12/10/1808.
Meili faleceu em Zurich a 26 de setembro de 1907, aos 68 anos de idade. Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo LXIX – Parte II (1908) há uma referência a seu falecimento, da qual se destaca o trecho . . . “a quem o Brasil deve inolvidáveis serviços, pois era um dos seus maiores amigos, dando disso provas eloquentes até os últimos momentos da sua existência”.